SOBRE ASSÉDIO MORAL
quinta-feira, 20/05/21 16:27Olá, queridas e queridos!
Este mês, trago para nossa conversa um assunto bem delicado, que até foi tema de uma das lives do SINJUS: assédio moral. Para começar, sabemos que, com exceção dos casos muito explícitos, muitas vezes, quando uma mulher relata estar sofrendo esse tipo de constrangimento, ela pode ser acusada de “mimimi”. Assim, deixo uma pergunta inicial: Como saber que estamos sofrendo assédio moral?
Pensando em como responder a essa questão e depois de ler muito sobre esse tema, cheguei a algumas informações preocupantes. Nesses tempos de home office, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a taxa de agressões contra mulheres aumentou e, da mesma forma, as reclamações de assédio no trabalho também aumentaram. É como se não houvesse uma relação de confiança entre gestores e equipe. Assim, em meio à pandemia e às perdas causadas por ela, além da crise por vacinas, temos que encontrar maneiras de lidar com essas situações mantendo nossa integridade física e moral.
Voltando à questão de como identificar o assédio moral, devo ser honesta: não sei ao certo e, depois de ler sobre o assunto e assistir algumas vezes à palestra do SINJUS, percebo que não é uma tarefa fácil. Dessa forma, trago hoje duas experiências minhas, quando vivenciei o assédio moral.
O primeiro caso foi justamente no primeiro local em que trabalhei como concursada na minha área de formação. Lembro da minha felicidade ao ser chamada, assumir o cargo e entrar na Engenharia… onde encontrei o coordenador, a quem chamarei de Paulo. Paulo era da minha idade e da maioria dos outros engenheiros, até mesmo por isso eu achava que a gestão dele seria moderna, inovadora, alegre; porém, na verdade era uma gestão tóxica e propensa ao assédio. Vendo agora, creio que ele era muito jovem e não conseguiu lidar com a pressão do alto escalão e, assim, optou pelo caminho da falta de educação. Cedo, logo ao chegar, ele já começava com sua falta de cortesia e respeito. Gritava, ofendia e xingava. Não vou falar que era com todo mundo, mas com a maior parte das pessoas. Lembro que eu tinha um amigo que, além de ser um dos melhores engenheiros civis que já conheci, era de uma educação ímpar e era o que mais sofria nas mãos de Paulo. Comigo também ele era extremamente grosseiro e falava rispidamente. Lembro que na época, não se falava tanto em assédio moral e, como é até hoje, as pessoas tinham medo de levar adiante o que acontecia com elas nos setores.
Eu sabia que aquilo não era certo, falava com os demais companheiros da Engenharia, mas, como já dito, pelo receio ou até pelo trabalho, a maioria prefere continuar passando pelo assédio, com aquela vã esperança de que aquilo vai passar. Na verdade, acreditamos que a pessoa enxergará a forma como está nos tratando e mudará, mas infelizmente isso não acontece! O tempo passou, eu saí de lá, meu amigo também e até o Paulo não está mais lá. Na ocasião, ninguém fez nada, e isso, de verdade, foi um erro nosso.
Estou contando isso agora e, depois de mais de 13 anos, percebo que hoje em dia as coisas não mudaram tanto. Sei de muitos que passam ou passaram pelo mesmo que eu passei: têm pavor em pensar em trabalhar, de encontrar com seu superior e nutrem aquela esperança de que o assédio acabe. A verdade é que não vai parar! Se isso estiver acontecendo com você, entre em contato com quem pode ajudar, denuncie! O SINJUS, por exemplo, tem uma equipe multidisciplinar pronta para auxiliar os servidores que estejam sofrendo assédio. Mesmo que você não saiba se o que vem acontecendo com você configura um assédio, busque auxílio, relate o que está passando. Uma boa conversa com quem entende do assunto pode ajudar a entender toda a situação com mais clareza e objetividade.
O outro caso que trago para reflexão aconteceu comigo em uma reunião. Um homem, também engenheiro, falou comigo que me achava um péssima engenheira, que eu deveria fazer um curso de reciclagem, pois ele não sentia firmeza em mim; que eu não entrava em discussão com outros colegas sobre matérias de Engenharia, então ele me considerava uma profissional ruim. Vejam só, a pessoa me falou isso sem alterar a voz nem o semblante; falou com calma, mas na frente de outra pessoa e em uma reunião cujo tema nada tinha a ver com isso. Cabe ainda dizer que é uma pessoa educada e que se diz um “homem feminista”.
Confesso que, no momento, não entendi aquela colocação e falei que estava aberta para conversar e que, na verdade, sempre fazia cursos que acrescentavam conhecimento ao meu trabalho de engenheira e que realmente não costumava discutir matérias da Engenharia, mas não sabia que isso é que mostraria minha capacidade. Passados uns dias, ainda me perguntava se aquela situação configurava assédio e, conversando com amigas e amigos, cheguei à conclusão de que, sim, era assédio moral. Uma pessoa pode questionar o trabalho do outro e até sugerir melhorias, mas tocar nesse assunto em uma reunião, sem a outra pessoa saber, falando que ela é má profissional é, no mínimo, intimidador.
Nesse caso, procurei o SINJUS para saber minhas opções e a primeira atitude que tomei foi conversar com a pessoa. No meu caso. tive êxito, foi bom e até recebi um pedido de desculpas, mas sei que não acontece assim com todo mundo.
Enfim, a grande lição que tirei dessas experiências e que gostaria de transmitir aqui é a de que não devemos passar por esse tipo de situação sozinhos. É fundamental procurar apoio e conversar com a família e amigos para entender o que está acontecendo e ter forças para buscar ajuda. O assédio moral pode atrapalhar muito a vida de quem o sofre, então não se cale!