Sobre a evolução recente da inflação no Brasil
segunda-feira, 29/02/16 17:00*por Thiago Rodarte
Após fechar 2015 em 10,67%, a inflação oficial (IPCA), medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – atingiu o valor de 1,27% em janeiro de 2016, maior taxa para o mês desde 2003.
As explicações para esse valor estão principalmente na elevação dos preços dos alimentos e bebidas (2,28%) e dos transportes (1,77%). Como esses itens têm grande peso no orçamento familiar e, portanto na estrutura do índice de preços, resultou em uma forte alta da inflação.
Mesmo em um cenário de fraca atividade econômica e de alta da taxa de juros básica da economia, a inflação ainda apresenta um valor superior à média dos últimos vinte anos. Para explicar esse problema é preciso entender que a inflação tem como causas principais fatores relacionados à oferta e à demanda. De forma resumida, uma ampliação da procura por bens e serviços tende a pressionar a inflação, já que os ofertantes não têm condições de atender a todos em um primeiro momento e aumentam os preços; já no caso da oferta, uma alta dos custos para os produtores, em geral, é repassada para os consumidores, pressionando os índices de inflação.
No Brasil, já há alguns anos, o combate à alta dos preços tem se baseado na tentativa de contenção da demanda via aumento da taxa de juros e mais recentemente por meio de cortes nos gastos públicos. A ideia é que um aumento na taxa de juros diminui a disposição para o consumo, já que se torna mais atrativo aproveitar a alta dos juros para realizar aplicações financeiras; além disso, outra implicação é que as operações de crédito (como compras a prazo) tornam-se mais caras. Com a diminuição do consumo, deveria haver por parte dos ofertantes uma disposição para diminuir (ou não aumentar) preços e não perder lucratividade.
No entanto, o efeito acima esperado não tem ocorrido. Apesar de o Brasil manter a maior taxa de juros do mundo, a inflação não tem cedido, como mostram os números. Isso ocorre porque a principal causa para a inflação atual está nos fatores relacionados à oferta. O aumento de impostos, combustíveis e energia elétrica, os problemas climáticos, e a desvalorização do real frente ao dólar fazem com que os custos das empresas se ampliem. No caso da taxa de câmbio um exemplo prático é o do pão: um de seus principais ingredientes – a farinha de trigo – tem como matéria prima básica o trigo, que é quase que totalmente importado; com o aumento do dólar fica mais caro importar o trigo o que implica em aumento dos custos para os produtores que repassam esse aumento para os consumidores.
É provável que em algum momento a queda da atividade econômica e da renda e a consequente diminuição do consumo, façam com que os empresários não tenham margem suficiente para aumentar preços sem ter uma queda muito grande de lucratividade, principalmente em setores onde a concorrência é maior e onde os produtos não são essenciais para o consumidor; isso ocorrendo é provável que a inflação ceda. Mesmo assim é recomendável que as autoridades responsáveis pela condução da politica econômica revejam sua forma de combate à alta dos preços atuando, por exemplo, no estímulo a concorrência em setores muito concentrados; incentivando a adoção de fontes de energia alternativas (solar e eólica); diminuindo a necessidade de importação de alguns insumos essenciais para a economia nacional, entre outros. Essa “nova” forma de atuação, em tese, geraria queda de custos para as empresas e consequente redução de preços, e abriria espaço para uma mudança na atual politica monetária – com redução dos juros – o que levaria ao aumento do investimento e maior crescimento econômico.
*Thiago Rodarte é economista da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) do SINJUS-MG/SERJUSMIG