Servidor é trabalhador

terça-feira, 09/10/12 15:00

* Arthur Lobato

No Brasil, o serviço público é, constantemente, criticado pela mídia. Filas, lentidão dos processos e, principalmente, a estabilidade do servidor são objetos de reportagens, que visam incutir na população a idéia de que a culpa dos problemas do serviço público esta no servidor. Este é apresentado como marajá, incompetente e preguiçoso. São omitidas as falhas e problemas das instituições, criando no imaginário coletivo, por meio de notícias distorcidas, a imagem de que o funcionário público não é trabalhador.

Quem conhece o trabalho dos servidores do Tribunal de Justiça (TJMG), fica impressionado com a quantidade de serviços executados e a executar. Afinal, em uma sociedade em crise, a justiça é o caminho natural para resolução dos conflitos. Na etapa da mediação e negociação entre as partes, para resolver os conflitos e pendências por via processual, o que encontramos, nas secretarias, são mesas abarrotadas de processos, e, mesmo que o número de servidores fosse dez vezes maior, ainda assim, seria impossível “agilizar a produção”. Isso, porque o trabalho do servidor no TJMG não é como uma linha de produção de uma fábrica. O servidor tem de ler, interpretar, analisar, redigir. Tudo isso, com competência e agilidade, pois, um pequeno erro tem conseqüências sobre o indivíduo, a família e suas interações com o tecido social.

Pesquisas mostram que juízes também estão adoecendo pelo excesso de trabalho, como diagnosticou Herval Pina Ribeiro, em seu livro/pesquisa, “O Juiz Sem a Toga”. A pesquisa contou com o apoio do sindicato e do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.

Unidos pela saúde do trabalhador

O Sinjus-MG e o Serjusmig aguardam a publicação de uma portaria que criará uma comissão que vai organizar e implantar uma pesquisa sobre a saúde mental do servidor no TJMG. Em plena crise econômica, com exigência de “produtividade” no serviço público, mais do que nunca temos que preservar a saúde dos trabalhadores.

Não podemos aceitar que os servidores deixem de ser sujeitos para se transformarem em objetos, peças que são substituídas por outras peças. Não podemos esquecer neste
1ͦ de Maio, a luta dos trabalhadores que pagaram com sua própria vida para que melhores condições de trabalho fossem conquistadas. É bom refletir, rememorando como eram comuns jornadas de trabalho de 16 horas; crianças trabalhando nas fábricas, salários irrisórios. Hoje, muitos trabalhadores se acomodam com as atuais oito horas de trabalho diário, em vez de intensificarem as lutas pela jornada menor que resultará na ampliação de empregos. Criticam-se seis horas de trabalho no serviço público, conquista mais do que justa, sobretudo ao considerarmos o desgaste mental e emocional dos servidores.

Devemos lutar – denunciar, não aceitar que a conjuntura econômica, social e política propiciem o aumento de casos de assédio moral como mecanismo de pressão, desestabilizando emocional e psiquicamente o servidor.

A estabilidade no emprego nada significa, sem que a saúde do trabalhador seja preservada. A luta atual tem de ser contra o assédio moral, processo perverso que adoece e destrói o ser humano. Que o TJMG perceba que o projeto de pesquisa representará um avanço na relação entre a instituição, seus servidores e os sindicatos.

*Arthur lobato é psicólogo e participa da Comissão de Combate ao Assédio Moral no Sinjus/Serjusmig e Sitraemg.


Artigo publicado no jornal Expressão Sinjus 176 – 7 maio 2009 

 

Arthur Lobato

É psicólogo da área de saúde do trabalhador. Integra a equipe da Comissão de Assédio Moral do SINJUS-MG. Participou de Congressos Internacionais sobre o tema no Brasil, Argentina e México. Sócio colaborador da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT).

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