ROSAS NÃO BASTAM NO DIA DA MULHER
terça-feira, 08/03/22 17:32Por Wagner Ferreira*
Neste 8 de março, eu poderia vir aqui desejar um feliz Dia Internacional das Mulheres e entregar uma rosa, e achar que está tudo bem. No entanto, sei que não está nada bem, e essa data é muito mais do que isso. Eu, Wagner, como homem, jamais saberei realmente, na pele, o que é a luta de uma mulher no dia a dia.
Não vivenciei trabalhar no mesmo cargo que uma pessoa, em condições iguais, e receber menos do que ela, em virtude do meu gênero. Nunca fui assediado na rua. Nunca senti medo por andar sozinho em uma rua escura ou ao passar na frente de uma construção. Nunca fui questionado sobre sair para trabalhar e deixar as filhas em casa. Eu não sei nada sobre as dificuldades que as mulheres passam, mas eu tenho filhas e uma neta, então, me esforço para compreender esses desafios, que são muitos. Assim, entendo que o 8 de Março é uma data de luta por respeito, igualdade, mais oportunidades de trabalho, equiparação salarial e combate ao machismo, à misoginia e à violência.
Meu maior exemplo de vida é uma mulher, minha mãe. A Dona Socorro é minha referência de uma verdadeira guerreira para trabalhar e educar os filhos. E, ao me tornar um servidor público concursado, há mais de 20 anos, vi muitas outras guerreiras batalhando para ocupar os espaços de poder. Ainda assim, falta um longo caminho a percorrer. Em Minas, só em 1960 tivemos a primeira juíza: Raphaela Alves Costa. Em 2020, a divisão no Judiciário ainda não era igualitária. Dentre os 967 juízes em Minas, 340 são do sexo feminino e, no TJMG, entre os 138 desembargadores, figuram 24 mulheres.
Como deve ser comum aos homens, confesso que enxergar as necessidades das mulheres é um desafio para mim. E, no Sindicato, essa urgência fez com que criássemos o Núcleo das Mulheres SINJUS-MG: um espaço de fala, de escuta e de empoderamento das servidoras do Judiciário mineiro. No Núcleo, levantamos importantes bandeiras, como a igualdade de gênero, o respeito às mulheres, a maior representatividade feminina na política, melhores condições de trabalho, além de questões específicas. Também fortalecemos as demandas trabalhistas das mulheres, como a extensão da licença-maternidade e a proteção da gestante no trabalho. Nessa direção, o Sindicato atuou rapidamente, logo no início da pandemia, para conseguir que as grávidas e lactantes conseguissem atuar em home office.
Estou aprendendo muito com elas. Na última roda de conversa de que participei, aprendi muito sobre pautas políticas e feminismo. Também promovemos o Círculo do Livro, um espaço para debater obras relacionadas à questão feminina, sempre com troca de experiências. Reconheço que esse não é meu lugar de fala, mas posso aprender para dar voz a quem mais precisa.
Além disso, posso defender os direitos delas. Defender direitos básicos, como o de não serem assediadas. E essa também é uma atuação do núcleo, que acolhe e recebe denúncias de servidoras vítimas de assédio (moral ou sexual) no trabalho. As mulheres são encaminhadas para o atendimento especializado da Comissão de Combate ao Assédio Moral do SINJUS, que oferece suporte com psicóloga, advogado e dirigentes do Sindicato.
Ainda nesse sentido, uma das nossas maiores lutas é a criação, no Judiciário mineiro, da Comissão de Prevenção e Enfrentamento do Assédio Moral e do Assédio Sexual, já prevista na Resolução 351 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Porém, queremos que esse dispositivo também seja aplicado aos outros poderes, como no Governo do Estado e na Assembleia Legislativa. Para se ter uma ideia, segundo dados da Ouvidoria-Geral do Estado, a cada trimestre são recebidas cerca de 150 denúncias de casos de assédio moral ou sexual no trabalho envolvendo servidores estaduais em Minas Gerais. Isso é grave!
E agora, chegando ao dia 8 de Março, o SINJUS lançou a página exclusiva do Núcleo das Mulheres, que vai levar informações de qualidade sobre as pautas femininas das servidoras públicas, as atividades do Núcleo, além de ser um espaço para dicas de serviços, entre outros. Na página, as servidoras acessarão facilmente os diversos convênios, terapias em grupos, atendimentos psicológicos, oferta de minicursos variados, além do Encontro D’Elas, um espaço livre para as servidoras falarem sobre o que realmente é importante para elas.
O núcleo funciona como uma rede de apoio e proteção, um lugar de empoderamento e acolhimento. Então, servidora, como homem, nunca vou saber realmente o que você passa. Mas eu posso escutar, apoiar, aprender e lutar junto para ajudar a vencer esses desafios. Conte comigo!
* É bacharel em direito com especialização em Poder Judiciário. Servidor efetivo do TJMG desde 2002, ocupando o cargo de oficial judiciário. Atua na diretoria do SINJUS-MG desde 2011, sendo coordenador-geral do Sindicato entre 2013 e 2020. Atualmente é diretor de Assuntos Jurídicos do SINJUS.
Foto: Divulgação/SINJUS-mg