Da Sintomatologia à Etiologia

quinta-feira, 27/06/13 16:10
 
Dejours propõe uma mudança paradigmática: da análise do sintoma (efeito da doença) para a etiologia: a origem da doença. Segundo o pesquisador "todo problema na organização do trabalho é um problema político".
 
Quando se constata que aumenta cada vez mais o número de doenças mentais ocasionadas pelo trabalho, temos um diagnóstico a partir do adoecer, por isso é importante entender as origens desde adoecer, para poder impedi-lo. Dejours propõe uma virada paradigmática, “… em vez da análise do sintoma, partir para a etiologia: a análise das causas da doença, que deram origem ao sintoma” (ponta do iceberg/doença). Afinal, o sintoma é o que se manifesta, é o fenômeno que se analisa, de onde deve partir a busca para compreender suas origens (etiologia). É uma virada epistemológica, uma mudança do paradigma atual sobre o adoecer do trabalhador, reforçando a ênfase na descoberta da origem da doença para que a prevenção seja realmente eficiente
 
Dejours ressalta a importância de um atendimento multidisciplinar no campo da saúde do trabalhador, discurso importante neste momento, quando no Brasil, o “ato médico” de forma autoritária consolida o poder supremo da medicina sobre outras áreas de saber da saúde como um todo. Entretanto sabemos que o psicólogo, o assistente social, o fisioterapeuta, o enfermeiro, o nutricionista, também possuem saberes inerentes a sua profissão, que não podem ser desconsiderados ou excluídos de um tratamento. Queremos enquanto profissionais da saúde do trabalhador, entender os possíveis destinos da relação entre trabalho e subjetividade, com a multiplicidade de saberes em prol do ser humano.
 
Por isso, segundo Dejours “no ambiente de trabalho é importante a realização de pesquisas para entender a relação entre o trabalho e o adoecer do trabalhador”.
Afinal, a saúde mental é individual, mas também pertence ao coletivo de trabalhadores, e a prevenção é o tecido social, já que envolve a solidariedade e o respeito entre e para com os trabalhadores. Para Dejours, as principais questões/problemas/conflitos relatados em suas pesquisas envolvem a hierarquia, a disciplina e a autoridade. Constata-se que a autoridade ‑­ diferente do autoritarismo, que é uma forma de abuso de poder ‑ é uma aprendizagem que se faz na relação do trabalho. Na analise sobre a hierarquia e disciplina, constata-se que "quanto mais regras, maior é o medo".
 
Em ambientes onde prevalecem o autoritarismo nas relações de trabalho, como no caso do TJMG, o trabalhador desconectado do grupo, do coletivo, procura desenvolver estratégias de defesa individuais que representam uma recusa de sofrer, para “sobreviver” no trabalho. Não podemos esquecer que na clinica do trabalho, a identidade do trabalhador é criada no campo do trabalho, por isso é importante um espaço para falar do trabalho, pois “só assim se chega a uma arbitragem sobre as deliberações e opiniões dos trabalhadores para a adaptação das normas da instituição, com a experiência e o saber do trabalhador”. Por isso é importante a analise da etiologia (origens da doença) e não apenas tratar os sintomas, sem buscar a fonte do mal estar, do adoecer do trabalhador.
 
Que este seja um dos focos para as futuras pesquisas e ações da Comissão Paritária TJMG/SINDICATOS, criada para coibir o assédio moral: unir as normas da instituição com o saber do trabalhador, em busca de um ambiente saudável no trabalho.

Arthur Lobato

É psicólogo da área de saúde do trabalhador. Integra a equipe da Comissão de Assédio Moral do SINJUS-MG. Participou de Congressos Internacionais sobre o tema no Brasil, Argentina e México. Sócio colaborador da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT).

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