Crimes de racismo disparam e registros em Minas quadruplicam em 2023
quinta-feira, 01/06/23 12:27FOTO: DEPOSITPHOTOS
“Somos todos Vinicius Junior”. A frase utilizada em apoio ao atleta brasileiro do Real Madrid, vítima de racismo durante uma partida de futebol na Espanha, expõe, em seu sentido literal, histórias cotidianas de tantos brasileiros, alvos do mesmo crime. No país onde 56% da população se autodeclara preta ou parda, a violência contra negros é uma transgressão rotineira, amparada em uma estrutura social que ainda não se desprendeu das “algemas do passado”.
Em Minas Gerais, por exemplo, os casos de racismo aumentaram entre 2022 e 2023. Foram 93 registros entre janeiro e março deste ano, número muito superior aos 22 episódios relatados às autoridades de segurança no mesmo período do ano passado. A crescente foi 322%, conforme o levantamento da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG).
“É algo do nosso dia a dia, que me revolta muito e que, muitas das vezes, não podemos fazer nada”, desabafa o cozinheiro Salatiel Menezes, de 26 anos, que denuncia ter sido novamente vítima de racismo durante o show do DJ Alok, no último sábado (27), em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte.
O cozinheiro afirma ter sido xingado e espancado por seguranças do evento. “Hoje, convivo com uma dor enorme, porque além dessa violência, tem aquela quando as pessoas desconfiam do que eu falo. Dizem que a história está estranha, não acreditam que o fato de um homem preto estar num lugar de pessoas brancas não é motivo para tanto, sendo que, na verdade, é isso o que acontece”, completa.
Racismo é crime
O racismo é um crime previsto pela Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, e está inserido no Código Penal brasileiro. Ele ocorre quando há conduta discriminatória contra determinado grupo ou coletividade, sendo ela motivada por origem, raça, sexo, cor, idade. Em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei 14.532 que aumentou a pena para quem comete esse crime. A punição passou de um a três anos para de dois a cinco anos de reclusão.
“O grande problema é que as pessoas, geralmente, não consideram o racismo como crime. Tratam apenas como um conflito de comunicação, falta de entendimento, o que não é uma verdade”, avalia a especialista em diversidade e inclusão Sônia Lesse. Para ela, esses casos se tornam reincidentes quando os responsáveis pelos atos justificam o crime como um problema estrutural.
“Recorrem a esse argumento e falam que estão em desconstrução. É como se transferisse a responsabilidade individual para um espectro, um lugar, não identificado. Isso é muito penoso para a vítima. O racismo é um crime que deveria ser tratado igual as outras tantas violências graves que a nossa sociedade ainda vivencia”, completa.
Fonte: Jornal O Tempo