Centenário de Elizabeth Teixeira: a resistência feminina na ditadura civil-militar brasileira
quinta-feira, 13/02/25 09:07
Neste 13 de fevereiro, celebra-se o centenário de Elizabeth Altino Teixeira, líder das trabalhadoras e dos trabalhadores rurais em Sapé, na Paraíba. Sua trajetória foi marcada pela luta e pela resistência em busca de transformação social, enfrentando intensa perseguição política após o assassinato de seu marido durante a ditadura civil-militar brasileira. Forçada a viver na clandestinidade por 17 anos, Elizabeth continuou apoiando a luta por direitos trabalhistas, mesmo sob risco constante.
Casada com o lavrador João Pedro Teixeira, ela vivenciou de perto os desafios e avanços da militância sindical no campo. Após anos de trabalho em condições precárias, em 1958, João fundou a Liga Camponesa de Sapé, dedicando-se à defesa dos direitos dos trabalhadores. No entanto, a luta lhe rendeu inimigos poderosos e levou ao seu assassinato em 1962, a mando do latifundiário Agnaldo Veloso Borges.
Diante da tragédia, Elizabeth assumiu a presidência da Liga Camponesa e intensificou a defesa pela Reforma Agrária, fortalecendo a organização dos trabalhadores rurais e incentivando a criação de novas ligas em municípios vizinhos.
A História no Cinema
Em 1964, o documentarista Eduardo Coutinho iniciou as gravações de “Cabra Marcado para Morrer”, com moradores de Sapé interpretando seus próprios papéis. Inicialmente, o filme tinha como objetivo recriar a trajetória de João Pedro Teixeira, com Elizabeth no papel de si mesma. No entanto, com o golpe militar daquele ano, as filmagens foram interrompidas. Tropas invadiram o Engenho Galileia, onde as gravações aconteciam, equipamentos foram apreendidos e parte da equipe de filmagem foi presa acusada de produzir um filme comunista financiado por Cuba.
Elizabeth fugiu, mas foi capturada dias depois. Sua casa foi incendiada, e ela passou oito meses na prisão. Ao sair, soube do assassinato de outros dois líderes da Liga Camponesa, Pedro Inácio de Araújo e João Alfredo Dias, o Nego Fubá. Temendo pela segurança dos filhos, tomou uma decisão drástica: fugiu, deixando-os aos cuidados de parentes.
Nos 17 anos seguintes, viveu escondida no município de São Rafael, no Rio Grande do Norte, sob a identidade falsa de Marta Maria da Costa. Mesmo na clandestinidade e sob risco de nova prisão, manteve-se ativa na militância, apoiando o sindicato local.
Em 1981, Eduardo Coutinho retomou as gravações de “Cabra Marcado para Morrer” aderindo a uma nova abordagem da história. O diretor localizou Elizabeth, promovendo o reencontro dela com os filhos, que haviam sido espalhados pelo Brasil, e abriu espaço para que “a mulher marcada para viver” contasse a sua própria história de resistência. Com isso, o documentário passou a retratar a vivência de uma mulher que superou a violência do Estado e do latifúndio em nome da justiça social.
Retratos do Brasil
Assim como Elizabeth Teixeira, a advogada Eunice Paiva também enfrentou dura perseguição durante a ditadura civil-militar após a prisão e o desaparecimento de seu marido, o então deputado Rubens Paiva. Sua trajetória, retratada no filme “Ainda Estou Aqui”, é tema do próximo CineFem do Núcleo das Mulheres (NM) do SINJUS-MG.
O evento vai contar com a participação da jornalista e crítica de cinema Kel Gomes e do doutor em Cinema Anderson Ribeiro em um debate sobre as questões político-sociais abordadas pelo longa, além de detalhes sobre a cinematografia escolhida pelo diretor. A experiência será enriquecida pela apresentação das músicas que compõem a trilha do filme pelo pianista Ighor Bastos.
O NM convida todas as filiadas para participar dessa conversa tão importante, no dia 20 de fevereiro, às 19h, no Centro Cultural Idea (R. Bernardo Guimarães, 1200 – Funcionários, BH). Faça sua inscrição aqui.