Assédio moral e a banalização do mal
sexta-feira, 11/07/14 15:05
Hannah Arendt*, uma das maiores estudiosas da categoria “violência”, concluiu a partir de seus estudos e análises que o assassinato do caráter faz a banalização do mal.
Apenas cumprir ordens significa não pensar. O pensamento é a maior atividade humana, o que nos diferencia dos animais, e, não se importar com seu semelhante é o traço de quem já perdeu a sua humanidade, portanto, o outro não significa nada, é mais um número, mais uma cifra.
Existem, também, politicas de gestão danosas à saúde do trabalhador, que se caracterizam pela não implicação de quem faz o mal com os atos praticados, como se os chefes apenas “cumprissem ordens”, mesma frase usadas pelos nazistas em Nuremberg, atitude que a filósofa Hannah Arendt chamou de “banalização do mal”.
A relação de domínio é feita não apenas através da força física, mas pela subjugação da vontade do outro. É o domínio psicológico e emocional através do medo que o dominador exerce sobre o dominado, o controle total sobre o corpo, a mente, e as emoções – verdadeiro terrorismo psicológico.
O assédio moral, ou violência moral, é também chamado de psicoterrorismo, por isso, fizemos este paralelo com os estudos de Hannah Arendt.
No ambiente de trabalho, a vítima de assédio moral muitas vezes pode ser comparada, em uma escala menor, a um prisioneiro de um campo de concentração, como em Auschwitz, onde à entrada estava escrito "Arbeit macht frei" (O trabalho liberta), mas era uma jornada para a destruição do ser humano.
Estamos falando do trabalho onde acontecem relações de poder assimétricas, autoritárias e perversas entre o dominador (chefe) e dominado (servidor). Ocorre, então, a destruição da dignidade humana do trabalhador assediado, após um longo período de assédio moral – violência invisível que deixa suas marcas (psíquicas e emocionais) para sempre na subjetividade das vítimas deste processo perverso e desumano.
Lutar contra o assédio moral e todo tipo de violência no ambiente de trabalho é um dever ético de todos nósque lutamos pela dignidade do ser humano, e um ambiente saudável no trabalho.
*Hannah Arendt, The origins of totalitarianism, in Hannah Arendt, A Condição Humana, tradução: Roberto Raposo, revisão tecnica: Adriano Correia – 11ed – Rio de Janeiro: Forense Universitária.