Absenteísmo, presenteísmo e Assédio Moral

quinta-feira, 14/08/14 18:45

*por Arthur Lobato

 

Um estudo sobre absenteísmo realizado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), em 2013, apontou um alto índice de afastamento do trabalho por transtornos mentais e comportamentais como primeira causa do absenteísmo. De acordo com o estudo “o absenteísmo pode ser atribuído tanto a problemas de saúde como a causas diversas”. 

Em sua essência, o absenteísmo é a ausência do funcionário no ambiente de trabalho. Roberto Heloani, em seu livro: Gestão e Organização para o Capitalismo Globalizado, considera o termo “fuga do trabalho”, como a revolta da classe trabalhadora americana no final da década de 50, quando sob o governo Nixon, várias ações têm início para a redução de salários. Com alto índice de absenteísmo empresas tem sua produção inviabilizada. 

Segundo o autor, esta “fuga do trabalho” é o indício do esgotamento da organização da produção, e dos mecanismos convencionais da economia, deixando à mostra a exaustão de um modelo que pretendia aumentar a intensidade do trabalho por meio da gratificação correspondente em ganhos salariais. 

Por analogia percebemos que a implantação de métodos gerenciais da iniciativa privada no serviço público, como produtividade e metas, traz de volta o debate entre o excesso de serviço, tempo, número de servidores e as condições para se realizar o trabalho.  

Além da intensidade, do ritmo e da carga de trabalho já existente, exige-se uma aceleração do tempo produtivo para o trabalhador cumprir a META 1 e 2 do Conselho Nacional de Justiça, (que em sua essência significa produzir mais, sem aumento do número de funcionários).  

Segundo Dejours, estudos sobre a psicodinâmica do trabalho revelam que “o sofrimento começa quando o nível de insatisfação não pode ser diminuído”. O autor afirma que a luta pela saúde do corpo conduzira à denúncia das condições de trabalho. Quanto ao sofrimento mental, ele resulta da organização do trabalho.

O absenteísmo para Dejours é um efeito concreto da subjetividade na relação homem-trabalho. 

Podemos supor que, o alto índice de absenteísmo pode ter uma ligação com um trabalho que se tornou insuportável, desmotivador, e pode apontar um nexo epidemiológico entre uma organização do trabalho que adoece um grande número de trabalhadores. 

Na relação de violência no trabalho surge um novo fenômeno: O presenteísmo, que significa a presença do trabalhador adoecido, exercendo sua atividade, apesar do atestado médico no bolso.   

O SINJUS-MG há mais de 7 anos realiza uma série de ações em prol da saúde do servidor, focando a questão do assédio moral no trabalho e suas consequências sobre a saúde do trabalhador. 

Excesso de serviço, serviço extra além da carga de trabalho, pressão por produzir mais sem tempo e condições materiais de trabalho, autoritarismo das chefias, humilhações, perseguições, recusa de comunicação são fatores que deterioram o ambiente de trabalho, tornando-o insuportável, e pode ter relação com o adoecer do trabalhador. Quem sofre o fenômeno denominado assédio moral tem atingidas sua personalidade, sua identidade e sua autoestima. O sintoma principal é a depressão, entre outros transtornos psíquicos e emocionais.  

Um ambiente de trabalho humanizado baseia-se no respeito ao outro. Será que no seu setor você é respeitado? 

Arthur Lobato

É psicólogo da área de saúde do trabalhador. Integra a equipe da Comissão de Assédio Moral do SINJUS-MG. Participou de Congressos Internacionais sobre o tema no Brasil, Argentina e México. Sócio colaborador da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT).

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