A organização do trabalho e o adoecer do trabalhador
sexta-feira, 16/01/15 11:00Por Arthur Lobato
Os dados do INSS sobre o adoecer e as mortes no trabalho, na iniciativa privada, são alarmantes: em 2012 foram mais de 700 mil acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Cerca de três mil trabalhadores morrem no Brasil todos os anos. Entre as causas destes acidentes estão o mobiliário inadequado, o ritmo acelerado, o assédio moral, a cobrança exagerada e o desrespeito a diversos direitos. Todavia, estes números podem ser maiores, pois estas informações são subnotificadas e não incluem quem trabalha na informalidade e no serviço público, onde se desconhece a relação saúde/adoecer/morte em função do trabalho.
Nos últimos anos, o serviço público adotou métodos de gestão oriundos da inciativa privada, envolvendo principalmente metas e produtividade, de maneira autoritária, sem a escuta e o saber do servidor, aquele que realiza o trabalho. Por isso, é importante realizar ações sindicais em prol da saúde do servidor, reforçando o projeto “saúde do trabalhador”, ou seja, “incorporar a categoria trabalho como determinante do processo saúde/doença”, a qual é a base da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e do Núcleo de Saúde Sindical do Sinjus-MG.
Edith Seligmann Silva, psiquiatra, professora do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo desenvolve sistematicamente pesquisas e estudos sobre a questão da saúde mental no trabalho. Ela conclui que: “nos atuais processos de precarização, com respeito aos impactos na saúde mental, podemos destacar os seguintes aspectos e mecanismos: intensificação do trabalho, associado muitas vezes ao prolongamento de jornadas, aumento das cargas de trabalho, especialmente das cargas de trabalho mental (inteligência + esfera dos afetos), com advento de níveis crescentes de fadiga geral e mental, os quais podem culminar em esgotamento profissional (burnout) ou outros agravos.
Ela destaca que outro fator que leva ao adoecer são “as pressões hierárquicas voltadas às metas de maximizar vantagens competitivas e lucros, o que provoca geração de ansiedade, que se acentua com a percepção do próprio cansaço, o que provoca aumento do medo de “não dar conta do trabalho e perder o emprego”. A pesquisadora conclui que “as situações de trabalho podem atuar desencadeando crises mentais agudas, neuróticas e psicóticas”.
Entre as preocupações com a saúde do servidores, chama a atenção o aumento de transtornos mentais e emocionais, conforme pesquisa do próprio TJMG, aumento que pode ter relação com o trabalho.
Para analisar a relação entre o adoecer e a organização do trabalho, é necessário estudar, pesquisar, debater, e principalmente, escutar o servidor, aquele que faz o trabalho, para juntos, profissionais de saúde, dirigentes do SINJUS e categoria, possamos elaborar uma política de prevenção/intervenção em prol da saúde do trabalhador. Para isso, são necessárias pesquisas, cruzamento de dados para a construção de um material que aponte os problemas que levam ao adoecer, entendendo sua raiz, que perpassa a organização do trabalho.
Assim, a saúde do servidor assume a importância de uma luta política conjunta entre sindicatos, federação e tribunais, pois, segundo reportagem de Edilene Cordeiroda Agência CNJ de Notícias, o próprio CNJ instituiu grupo de trabalho para avaliar a saúde de magistrados e servidores (11/04/2014). O Conselheiro Rubens Curado – Juiz Auxiliar da Presidência do CNJ, e Coordenador do Grupo de Trabalho Saúde dos Magistrados e Servidores, afirma: “a preocupação com a saúde física e emocional de magistrados e servidores está no centro do plano estratégico do Poder Judiciário, porque está intimamente ligada à gestão de pessoas, à qualidade de vida e de trabalho e, consequentemente, ao bom desempenho da instituição.
Em 2015, o Sinjus continuará sua política em prol da saúde do servidor e da servidora, e em breve, serão divulgadas as datas dos encontros com os servidores, para uma “roda de conversas” sobre o trabalho e sua relação com o processo de saúde e adoecer.
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