Nada acontece por acaso
segunda-feira, 19/09/16 16:00Por Lea Leda Schmidt Correa
Nada acontece por acaso, observou Beatriz Melo, no decorrer das atividades da ‟Roda de Leitura” que, em sua reunião do dia, comentava o livro : ‟A graça da coisa” de Martha Medeiros.
– É mesmo! pensei. Nada acontece por acaso, vindo-me, imediatamente, à memória outra frase: ‟O acaso não existe”, essa de Chico Xavier, em um de seus livros.
Nesse dia, voltei para casa com a observação da colega a martelar-me os ouvidos. Nada acontece por acaso… Nada acontece por acaso! As coisas acontecem… mas nada acontece por acaso.
Querem ver?
Há alguns meses, houve uma reunião do NAP em que o tema da palestra era: ‟A memória e o livro”. E todos os participantes, incentivados pelo facilitador, psicólogo e jornalista Arthur Lobato, tiveram a oportunidade de falar de um livro lido cujos fatos relevantes estavam guardados, há muito tempo, nos arquivos de suas memórias, vindo, que surpresa! à tona assim que foram evocados. Eu, pessoalmente, lembrei-me de um livro da minha adolescência, o ‟Pequeno Príncipe” de Saint-Exupèry. E, quase que pedindo desculpas por trazer à baila o livro das misses dos anos 50-60 (sic), comentei que o texto era muito atual, aplicando-se a muitas situações que ainda vivenciamos.
Nada acontece por acaso.
Na oportunidade, acrescentei que, naqueles dias, eu assistira à dissertação da minha sobrinha, no fim do seu mestrado, versando sobre a leitura dos adolescentes nas bibliotecas públicas. E saíra de lá com uma questão instigante e um desafio que, no momento, ainda não era meu, mas para minha sobrinha e outros profissionais da leitura: – Façam alguma coisa para que os idosos leiam!
Ouvir a palestra para os aposentados e a dissertação da minha sobrinha não foi à toa. Porque eu me dei conta, de repente, de que o incentivo à leitura entre os mais velhos era algo a ser pensado, nas famílias, nas instituições de idosos, nos grupos de lazer dos aposentados, nas bibliotecas públicas e até nas Universidades para a Terceira Idade.
Nada acontece mesmo por acaso. Por quê eu, uma idosa, estava presente naqueles locais, naqueles dias, naqueles horários, ouvindo profissionais falar de leitura entre pessoas de faixas etárias opostas e, no entanto, tão carentes de incentivos à leitura como aquelas?
Que estava latente nas perguntas que me fazia?
Tenho observado que os jovens de hoje não leem mais como liam os jovens da minha geração. E tenho observado também que os idosos, quando leem, têm dificuldade para concentrar-se na leitura, esquecem-se do que leem ou mesmo leem cada vez menos, perdendo, aos poucos, o hábito de ler. Trocam a leitura pela televisão, pelo computador, pelos trabalhos manuais e artesanais, pelas obras sociais e religiosas e até pelo não fazer nada.
E, como nada acontece por acaso, em um piscar de olhos, tudo ficou claro para mim. Fiz minha leitura dos acontecimentos. Eu estava naqueles lugares, naqueles dias, naqueles horários para apropriar-me das pontas de uma Linha de Tempo, que passa pelas crianças, pelos adolescentes, pelos adultos e pelos idosos. A Linha de Tempo da Leitura. Todos já leram um dia, leem, têm que ler, mas a leitura só tornar-se-á um hábito arraigado e um prazer, se houver ações e políticas que levem a ler.
Veio-me,então, à mente a proposta de formação de um grupo de leitura entre os integrantes do NAP. E assim fiz. Os fatos foram formando uma cadeia: participantes foram-se inscrevendo, ideias foram surgindo, sugestões foram discutidas, autores foram citados, indicações de leituras foram feitas, normas e critérios para implementação da proposta foram sendo criados, e, por fim, aqui está nossa ‟Roda de Leitura”.
. Nada acontece por acaso. O acaso não existe. As coisas acontecem, simplesmente, para impulsionar novos acontecimentos.
Eis que chegou a ‟Roda Viva” e trouxe nosso Destino para cá.
Sugestão de leitura: Letra da música ‟Roda Viva” do Chico.
Lea Leda – Aposentada do TJMG
Roda de Leitura – SINJUS