ARTIGO

O Trabalho liberta?

sexta-feira, 26/05/17 16:51

Começo citando a frase que estava no portão de Auschwitz — as fábricas da morte do regime nazista —, sempre em busca de mais produtividade e metas, ou seja, matar mais rápido e em maior número judeus e quem era contra o regime nazista. O racionalismo é aliado da busca tecnológica por mais “produtividade”,  como o gás Zyklon-B fabricado por uma das maiores indústrias químicas alemãs que existe até hoje.

Quando os prisioneiros entravam nos campos de concentração eram iludidos que ali teriam trabalho e condições de vida e que o trabalho seria sua redenção. Uma mentira tão grande como o banho obrigatório para os mais velhos e doentes, onde em vez de água saía o gás mortal, que exterminava em minutos.

É um modelo de exploração sobre a força de trabalho que o capitalismo pós segunda guerra utilizou, assim como a propaganda nazista, modelo para o domínio dos meios de comunicação sobre corações e mentes de várias gerações.

Racionalismo científico, produtividade, bater metas com o uso de tecnologia, essa foi a principal herança do modelo nazista de produção para o capitalismo. Sim, o trabalho  libertou da vida o escravo, mas com sua morte.

Aliás, os nazistas inventaram várias modalidades de trabalho tendo como premissa o trabalho escravo, usando trabalhadores dos países conquistados para trabalhar até a exaustão, até a morte, em atividades perigosas e insalubres. Toda a energia física, mental e emocional era sugada pelo modo de produção nazista.

Hoje o capitalismo, através do projeto neoliberal, vai explorando corpos e mentes até a exaustão, mesmo sabendo que o adoecer não é uma fraqueza do sujeito mas um efeito do modo de produção que vivemos hoje, por exemplo, quando o trabalho assume o lugar central de nossas vidas. Antes trabalhávamos para viver, hoje vivemos para trabalhar e coitado do adoecido e do desempregado pois eles são excluídos do processo produtivo e a culpa é jogada nele, e não no modelo como se organizou o trabalho após a segunda guerra mundial.

Se os nazistas usavam a força de trabalho até a morte, hoje o capitalismo com seu discurso neoliberal usa a força de trabalho humano até a exaustão, até o adoecimento, e o assédio moral é um  modelo de gestão adoecedor,  que tira toda a energia física, psíquica e emocional do trabalhador, que adoecido é descartado e com a culpa introjetada de ser um fraco,  de não ter dado conta de se superar diariamente na produtividade que é a exploração da mais valia do trabalhador e dos coletivos do trabalho.

Edith Seligmann-Silva, psiquiatra doutora em medicina afirma que  “ O assédio moral em casos de pessoas adoecidas, menos produtivas, pode ocorrer devido a reabilitação inadequada que pode levar, inclusive ao assédio grupal, com a participação de colegas, o que pode ser explicado pelo sentimento de que a  pessoa, por produzir menos, sobrecarrega os demais, que podem, de fato, sentir-se sobrecarregados. É uma situação na qual na verdade, quem adoeceu deveria ser reabilitado em uma função adequada a suas outras capacidades.”

Quando a política de metas e produtividade é lançada como um furacão no serviço público, não se estuda o que aconteceu quando este modelo foi implementado nas privatizações dos bancos estaduais, com o alto índice de adoecimento dos bancários e elevado suicídios no ambiente de trabalho. Esconde-se os efeitos deste modelo, para elogiar o “sucesso” do aumento da produtividade.

Por isso, o discurso  que a previdência é deficitária e tem que mudar, que terceirização, que chegará ao serviço público, é boa, por isso necessária, e outras mentiras que vemos, ouvimos e lemos diariamente nos jornais, rádio e TV, afinal a mentira repetida mil vezes vira verdade, já afirmava o ministro da propaganda nazista Goebbels.

Cabe aos sindicatos, no nosso caso o SINJUS-MG, ser o nosso “Bunker” contra estas reformas neoliberais, diria mais, nazistas,  contra todo o povo brasileiro. Somente nossa união, sair às ruas, conscientizar amigos, filhos e desconhecidos, de que enfrentamos o massacre  do capital contra nós trabalhadores, aposentados e desempregados. Pois, se não lutarmos contra o mal ele dominará e destruirá o que ainda resta de humanidade neste planeta.

(Esta análise continua no próximo mês)

Arthur Lobato

É psicólogo da área de saúde do trabalhador. Integra a equipe da Comissão de Assédio Moral do SINJUS-MG. Participou de Congressos Internacionais sobre o tema no Brasil, Argentina e México. Sócio colaborador da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT).

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